Isso que eu vou te contar agora é uma das histórias mais marcantes que aconteceram na minha vida, provavelmente duas pessoas no mundo a conhecem e eu guardei todo esse tempo com muito carinho aqui dentro do meu coração e memória:
Quando você fecha um contrato de um livro com uma editora, normalmente vem de brinde uma data para entrega dos originais. Quando essa data chegou e eu entreguei dentro do prazo acordado, a editora finaliza o livro e envia para a impressão em uma gráfica.
Esse processo não é nada rápido e a nossa meta era conseguir lançar o livro na Bienal do Livro, que naquele ano aconteceria no Rio de Janeiro. A grande questão é que não tínhamos a menor ideia se daria tempo, afinal, imaginem quantos livros estariam na mesma situação querendo lançar no mesmo local.
Semanalmente eu cobrava a editora e eles nunca tinham uma resposta e como já estava na prorrogação do segundo tempo, decidi baixar minha ansiedade e entreguei para o universo, seja o que tiver de ser. Quando faltava 1 ou 2 dias recebo uma mensagem da editora:
Toledo, deu certo! Seu livro estará na Bienal!
Depois de longos meses de trabalho finalmente veria meu filho fisicamente pela primeira vez. Coração estava apertado de novo e a emoção a mil!
Como morava em São Paulo, corri para comprar uma passagem de avião. Cadê os vôos? Não tinha um, tudo esgotado. Não pensei duas vezes, comprei uma passagem de ônibus para viajar no único horário disponível, de madrugada.
Peguei minha mala e me mandei, ao chegar no Rio pela manhã bem cedo, primeiro dia de Bienal, fui direto para o hotel deixar as coisas e tomar café da manhã. Ao chegar na recepção, quem eu encontro no saguão? Mário Sergio Cortella, filósofo e um dos maiores autores Brasileiros.
Quando o vi fiquei enlouquecido, sempre admirei muito e queria falar com ele a qualquer custo, ele fez o checkin e sumiu, quando terminei o meu, nem mais sinal de vida dele.
Ainda em êxtase somente pelo fato de tê-lo visto, subi, deixei as coisas no quarto, desci imediatamente para o café da manhã morrendo de fome, pego uma mesa, vou ao buffet e dou de cara com quem? Ele mesmo. Mario Sergio.
Dessa vez eu não deixei passar.
Me apresentei, disse que era muito fã e que estava lançando meu primeiro livro, ele abriu aquele sorriso maravilhoso e começou a conversar comigo. Trocamos algumas frases e ele me convidou para sentar em sua mesa.
E o que seguiu foi um dos momentos mais marcantes da minha vida, me senti ao lado de um guru, educando seu discípulo sobre a vida intelectual e o que me esperava pela frente.
Ele me contou uma parte da sua história, como foi o lançamento do seu primeiro livro. Depois de como tudo evoluiu até chegar naquele dia, onde estava com aproximadamente dezessete livros em exposição, em um local exclusivo com seu nome e uma fila enorme de fãs para conhecer e autografar.
O papo durou provavelmente algo em torno de quinze minutos, mas pra mim pareceram horas e acabou se tornando um dos momentos mais especiais que tive.
Ao me despedir, ele se levantou da sua cadeira, abriu um largo sorriso, me deu um abraço e com aquele vozeirão me desejou parabéns!
Ele era provavelmente um dos maiores personagens daquela Bienal do Livro e eu, ninguém. Nunca tinha ouvido falar no Marcelo Toledo. Mesmo assim deu-se o trabalho de me convidar para sentar em sua mesa e me concedeu uma das maiores aulas da minha vida: Humildade, humanidade, carinho e amor.
Mario Sérgio Cortella, se um dia você tiver oportunidade de ler isso, gostaria de dizer que naquele dia você marcou minha vida para sempre. Obrigado pela mais linda demonstração de afeto que já recebi em um dos dias mais especiais da minha vida.