Trabalhe por um sonho e não por dinheiro

Desde pequeno minha mãe fez questão que meu irmão e eu fizéssemos esportes, meu tio tinha sido campeão de natação e essa influência era muito grande na minha família.

Eu me recordo que todos os dias nós íamos juntos para um pequeno clube chamado Hobby Sport. Lá passávamos a tarde inteira praticando atividades, que incluíam brincadeiras esportivas como vôlei, basquete, futebol, judô e natação. Eu adorava. Era o momento mais feliz do meu dia. E do dia dos meus pais que podiam descansar um pouco.

Mas chegou um dia que eu cansei, chamei minha mãe e disse que não queria mais fazer tudo aquilo, somente natação. Minha mãe foi uma visionária, me colocou dentro do carro e me levou no melhor clube de São Paulo, o Esporte Clube Pinheiros, chegando lá eu fiz um teste.

E não passei.

Rodei a cidade inteira fazendo testes e fui recusado em cada um deles. Eu já tinha doze anos, e por incrível que pareça, estava tarde para entrar na natação competitiva.

Mas em um deles, a conversa foi diferente. Aleluia, né? Se não esta seria a pior estória sobre persistência que vocês já ouviram.

Durante o teste, fiz tudo que a técnica mandou, nadei crawl, costas, peito e borboleta, e quando terminei ela não mediu palavras.

— O seu crawl é aceitável, o resto dos seus estilos estão uma porcaria. Eu vou te dar três meses para você melhorar, caso contrário, você vai ter que sair.

No meu primeiro dia de treino, não tinha óculos ou sequer uma touca. Nos primeiros trinta minutos, eu não aguentava mais colocar a cabeça na água de tanto que meus olhos ardiam, saí de lá com os olhos vermelhos e a visão toda embaçada, mas no dia seguinte, lá estava eu, de touca e óculos pronto para mais um treino.

Os treinos variavam de 3 a 4 quilômetros por dia. Eram tão puxados e cansativos que eu passava o dia inteiro dolorido e exausto.

Um certo dia, uma parte do nosso treino era focado em viradas, lembro que minha técnica assobiou, me corrigiu na minha forma de fazer a virada. Eu repeti e ela me corrigiu novamente. Novamente eu repeti e novamente ela me corrigiu. Irritada, parou a equipe inteira, por volta de umas trinta ou quarenta pessoas, e me pediu que realizasse a virada sozinho. Todas as vezes que eu fazia, ela pedia que eu repetisse, isso se repetiu umas vinte vezes e o treino só retomou depois que eu acertei a virada.

Na hora eu fiquei irritado e morrendo de vergonha. Mais tarde eu entendi o propósito da lição. Eu nunca mais errei uma virada na minha vida e a minha virada se tornou uma das melhores da equipe.

Três meses passaram e eu continuei, no final do ano, sem ter faltado um dia no treino sequer, fui campeão paulista e ainda ganhei o prêmio de atleta revelação.

Não demorou muito para eu chegar no Pinheiros. Que não é o melhor a toa. Os treinos eram extremamente puxados, eu nadava duas vezes ao dia, de segunda a sábado. Começava de madrugada, das 5 às 6:30, a tarde, das 4 às 5 tinha preparação física, e das 5 às 7:30 era o treinamento principal na água. Eu nadava em média média 12 a 14km por dia.

Isso equivale a todos os meses ir e voltar nadando para Piracicaba. Ou ao final de um ano nadar até Manaus.

Uma vez por semana tínhamos uma sessão com uma psicóloga especialista em esportes e atletas, e todos os dias eu seguia uma dieta bem rígida de 8mil calorias.

O meu técnico era o atual técnico da seleção Brasileira, e durante os treinos, estavam ao meu lado, campeões brasileiros, mundiais e até medalhistas olímpicos, como Gustavo Borges.

Certa vez eu estava participando de um campeonato internacional na Argentina. Depois de seis meses de treinamento específicos para este campeonato, eu estava muito bem preparado, numa das minhas melhores formas.

Já havia ganho 3 medalhas nas provas que havia nadado e eu realmente estava arrepiando. Mas ainda estava por vir minha a melhor prova, os 200 medley. Ali era minha especialidade, a minha casa, eu tinha plena certeza e confiança que eu ganharia. Na minha cabeça, meu único adversário naquela prova era o relógio. E eu não decepcionei, ganhei com uma boa vantagem. Mas quando o resultado saiu, dizia que eu havia feito um movimento errado e fui desclassificado, perdi a medalha de ouro e seis meses de treinamento.

Os meus melhores resultados vieram naquele clube, subi ao pódio em campeonatos regionais, nacionais e internacionais.

Mas eu só fui perceber que a natação tinha sido tão importante na minha vida, quando iniciei minha vida profissional e fui conhecendo empresas e pessoas.

Não foram poucas pessoas que eu conheci que tinham uma excelente formação acadêmica, com MBA, mestrado e até doutorado. Mas com pouca bagagem de vida e pouca experiência.

Eu comecei a trabalhar com 17 anos, mas antes disso, a natação já havia me ensinado uma serie de coisas, que eu vi que um monte de pessoas por aí não tinham aprendido:

  • A trabalhar em equipe.
  • A ser persistente
  • Ter disciplina.
  • A saber errar e receber uma crítica construtiva.
  • A não desistir.
  • A ter metas e foco.

Fui atleta profissional e conheci centenas de pessoas, também fui graduando e conheci outras centenas de pessoas. Dez anos mais tarde, vendo o resultado de todas elas, os mais expressivos e em maior quantidade vieram de pessoas da natação e não da universidade, por quê?

Faz quase vinte anos que uma formação acadêmica não é garantia de emprego, nem de bom profissional, por sinal, os piores candidatos a vaga que tive nas minhas empresas, tinham uma excelente formação acadêmica, e por incrível que pareça, os melhores nem formados eram.

Existem pessoas que jogam 4 ou 5 anos de sua vida no lixo, em uma faculdade, fazendo o mínimo esforço possível somente para passar, e ainda acham que estão ganhando um diploma, será?

Um atleta consegue ter todas aquelas características por um sonho. Ao terminar sua vida de atleta, ele certamente escolherá a segunda coisa que mais gosta no mundo. Por isso ele consegue manter o pensamento positivo e se esforçar mais do que todos.

Os seus resultados são mensurados pelo seu esforço e dedicação, esqueça um pouco o que a sociedade pré-estabeleceu como regra, se você se esforçar mais do que tudo neste mundo, simplesmente não tem como dar errado.